À vontade no Milan, Robinho aponta razão do sucesso na Itália: É carinho


Em Milão, Robinho garante: está em casa. O aconchego é fruto de uma herança construída por nomes como Dida, Serginho, Cafu e Kaká. No Rossonero desde a temporada passada, o atacante transmite espontaneamente um sentimento repetido inúmeras vezes em palavras durante a entrevista concedida ao GLOBOESPORTE.COM no centro de treinamento de Milanello: felicidade.

- Me sinto em casa no Milan, sim. Graças a Deus. Estou passando por um momento muito bom. É um clube que adora brasileiros, nos trata muito bem. Estou a cada dia mais adaptado. Sou muito feliz aqui. Esse carinho, essa receptividade desde o começo. Eu não esperava que fosse assim tão bom.

Em paz na Itália, Robinho admitiu que escolhas equivocadas retardaram seu sucesso em gramados europeus. A transferência para o Manchester City, por exemplo, era algo que o ex-santista disse que não repetiria: nem pela forma que deixou Madri, muito menos pelo destino. Os tropeços do passado serviram de aprendizado, ao ponto de apoiar Neymar na decisão de prolongar por mais alguns anos a permanência no Brasil.

Durante o bate-papo, Robinho mostrou que hoje em dia realmente tenta ser mais objetivo: não pedalou para cima de nenhuma pergunta e respondeu com firmeza sobre passado, presente e futuro. Em pauta, a trajetória europeia, o talento do filho Robson Jr., de 3 anos (divulgado em vídeo na internet), Neymar, Kaká, Ronaldinho, Adriano, Mundial de Clubes e, obviamente, Seleção Brasileira, para a qual não foi chamado nas duas últimas convocações:

- Eu respeito. A concorrência é sempre muito grande, e vou continuar trabalhando para ser convocado. Até a Copa de 2014 muita coisa vai acontecer.


Confira toda a entrevista com Robinho:

O Milan é sua terceira casa na Europa, mas parece que agora, sim, você se encontrou, está mais à vontade, mais feliz. É isso mesmo ou é só impressão?

É, sim. Graças a Deus. Estou passando por um momento muito bom no Milan. É um clube que adora brasileiros, nos trata muito bem. Estou a cada dia mais adaptado. Sou muito feliz aqui. Estou muito contente.

Qual a diferença do que você encontra em Milão para o que tinha em Manchester, em Madri?


Em Madri era muito bom também. É um clube excelente, de ponta, o futebol espanhol é mais fácil para o jogador brasileiro se adaptar. Porém, tinha aquela ciumeira na minha época com brasileiro, estrangeiro. Aqui, é diferente. Eles nos tratam superbem.

 Até no Manchester City já era bom, mas em campo era muito diferente. O futebol inglês é de muita força, e para o jogador brasileiro se adaptar é complicado. Ainda mais quem joga na frente e é leve, como eu. No Milan, só há coisas boas. Eles amam os brasileiros. Falam sempre muito bem de todos que passaram por aqui.

A diferença, então, é esse carinho maior com que te tratam no Milan?

Exato, exato. Esse carinho, essa receptividade desde o começo. Eu não esperava que fosse assim tão bom.

Como que é o ambiente no vestiário? Já soube que um pessoal canta aquela música do Michel Teló, “Ai se eu te pego”, dança... É isso mesmo? Já ensinou alguma dancinha?

(Risos). Eles gostam muito, gostam bastante dos brasileiros. O carinho é enorme. Até hoje, falam muito do Kaká, Serginho, Dida, Cafu... O próprio Fenômeno, que fez mais história no Inter, é muito bem visto. Agora, estamos fazendo a nossa história. Claro que jogador brasileiro quando fica no banco fica chateado, p. da vida, mas é algo normal no futebol.

Queria que você falasse também sobre o seu estilo. Temos visto no Milan um Robinho mais tático e com menos pedalada...

É. Acho que eu dei uma mudada na maneira de jogar. Hoje prefiro um chute para o gol do que uma pedalada. Mas sem perder a alegria, claro. Isso temos que ter sempre. Só que o futebol europeu me fez aprender a jogar mais para o time e deixar um pouco de lado a individualidade.

Como que tem sido sua vida na Itália?

É bem tranquila. Treino todos os dias, busco meu filho na escola. No mais, fico em casa. Às vezes, o Pato vai lá. Jogamos um videogame, uma bola, fico tocando cavaquinho, saio para jantar à noite de vez em quando. Gosto de comida japonesa, então vou ao restaurante do Seedorf. Vou também na casa do Julio Cesar, que joga no Inter, mas deixamos a rivalidade só para dentro do San Siro. Escuto um samba com o Maicon. O pessoal também costuma ir na minha casa para ver os clássicos do Brasil, assistimos a jogos do Santos.

Hoje, vivendo sua melhor fase na Europa, você olha para trás e pensa também que pode ter errado em algumas escolhas nas épocas de Real e Manchester?

No Madrid, eu queria sair por estar insatisfeito com o clube, que não estava me valorizando como eu queria no momento. Mas acabei indo para um futebol no qual é totalmente difícil um jogador brasileiro se adaptar. Hoje, eu até sairia, mas não sei se para o City, com todo respeito ao clube. A questão é a Inglaterra em si, que é um país que não é tão bom para o meu futebol. Mas não me arrependo de ter saído. Me arrependo da forma como saí do Madrid, brigado. Isso não é bom para minha imagem, nem para o clube. Agora estou feliz. No Milan, tenho jogado, tenho sido útil para o time. Isso é o mais importante. Claro que no futebol as coisas mudam muito rápido. Depois, o cara fica dois, três meses no banco e pensa: “Ah, quero ir para Seleção, quero jogar”. E já pensa em voltar para o Brasil. Mas agora estou muito feliz.

Como que você viu a opção do Neymar em renovar e ficar mais um tempo no Brasil? Você chegou a dar algum conselho a ele, lembrou da sua história?


Falei com ele das coisas boas e ruins da Europa. Da saudade dos amigos, da cultura diferente. Mas o Neymar fez uma boa escolha. O Brasil está muito bem financeiramente. Talvez, se na minha época fosse assim, eu não teria saído para o Real Madrid. O país tem uma economia boa e os clubes podem pagar um salário maior e manter um jogador como o Neymar. Na minha época, era mais difícil. Ele fez uma boa escolha ao ficar no Santos. O importante é estar feliz, perto dos amigos, da família... E só o futuro vai dizer se foi a melhor opção ou não.

E sobre ele em si? É um jovem que está entre os finalistas do prêmio da Fifa, tem arrebentado. Você acha que ele já está no mesmo nível de Messi e Cristiano Ronaldo?

Acho que ele tem o mesmo nível ou melhor que esses dois. O Neymar vem com um nível muito bom. Porém, na Europa só respeitam jogadores que jogam aqui, né? Existe essa desconfiança sobre o jogador que nunca jogou uma Champions League ainda, uma Copa do Mundo. Na minha opinião, o futebol europeu é tão difícil quanto o brasileiro. 

Aqui, há mais força física, mas a dificuldade é igual. Às vezes converso com alguns diretores e eles falam: “O Neymar está bem porque está no Brasil. Vamos ver se vai fazer isso na Europa”.

O pessoal pergunta muito a você sobre ele?

Aqui no Milan falam mais sobre o Ganso, que o clube tinha a intenção de contratar. Mas, sobre o Neymar, falam muito bem. O Ibra sempre comenta: “Poxa, o moleque é bom, fez gol”. Sempre procuram saber, sim.

O vídeo do seu filho pedalando em Milanello fez muito sucesso no Brasil. Vem um “Pedaladinha” por aí? O garoto tem talento?

(Risos). Pô, eu não gostou muito de falar para não parecer que estou forçando, mas ele faz muito mais coisas que aquilo ali naturalmente. Ele joga o tempo inteiro, só fala de bola, fica com a bola. Eu vou incentivá-lo a praticar esportes. Se virar jogador, vai ser um orgulho. Mas foi engraçado (risos). Todo mundo me ligou. Não imaginei que fosse ter essa repercussão toda. O levei para o CT por ser um dia de treinamento e ele não ter colégio. Ele pediu, eu levei e ficou engraçado. Tomara que ele seja jogador de futebol, mais um jogador do Santos. Vamos ver.

Falando de Seleção, você ficou fora das últimas duas convocações (amistosos contra Costa Rica e México e Gabão e Egito). O Mano te procurou para falar alguma coisa? Disse se estava pensando em testar novos nomes? Como ficou essa relação?

Minha relação com o Mano é ótima. Ele é um excelente treinador. Acho que a Seleção está fazendo um projeto para as Olimpíadas. Eu respeito. A concorrência é sempre muito grande e vou continuar trabalhando para ser convocado. Claro que é difícil, mas a relação com o Mano é ótima. Até a Copa de 2014 muita coisa vai acontecer. Novos garotos estão despontando.



Mas teve algum tipo de conversa? Ele explicou o motivo de não te convocar?

Não. Eu machuquei o púbis (foi cortado do amistoso contra Gana) e liguei para ele para falar que não conseguia jogar, que estava mal. Ele respondeu: “Tudo bem, beleza. Se recupere e continue trabalhando”.

Queria que você falasse sobre três ex-companheiros seus que ficaram um tempo fora da Seleção e, dois deles, estão voltando: Kaká, Ronaldinho e Adriano. Você acha que todos vocês ainda podem ser importantes para Seleção, até pela experiência que têm?

Acho que esse quarteto ainda pode ajudar e muito a Seleção. Não fomos campeões do mundo, e queremos muito. O Kaká já foi, mas não jogando, e o Ronaldinho só em 2002. Podemos ajudar muito. Fiquei feliz por ver o Kaká feliz depois de dois anos difíceis no Real Madrid. É um clube complicado. Vê-lo feliz é muito bom. O Ronaldinho também. Toda imprensa já o colocou fora da Seleção e logo depois, quando arrebentou no Flamengo, pediu o retorno. E o Adriano, que não está em boa forma, mas pouquinho a pouquinho vai voltar a ser o Imperador que sempre foi. Temos que trabalhar sempre com alegria. Seleção vai ser sempre meu objetivo.

Você falou que a Seleção está com um projeto olímpico. Em 2004, você ficou fora de Atenas (a geração de Diego e Robinho foi eliminada no Pré-Olímpico). Estar em Londres é uma meta?


Tudo que é relacionado a Seleção eu estou dentro. Acho que o cara quando é chamado tem que ir. É o nosso país. Tem que ter vontade, alegria, tesão para jogar. Não sei o pensamento do Mano, não sei se vou estar. Até acredito que, para Olimpíada, não. Mas vou me preparar como se estivesse convocado. Para Seleção, é sempre importante estar bem.

E sobre o Santos no Mundial? Você essa semana enfrentou o Barcelona (derrota por 3 a 2 pela Champions League), viu o quanto é difícil. É possível vencê-los?

É possível, sim. A escola deles é muito boa, toca bem a bola, mas atrás fica muito vulnerável. Eu acredito no Santos. É um time que joga para frente, mais ou menos no mesmo estilo.

Você algumas vezes falou do sonho de ficar entre os melhores do mundo da Fifa. Acha que agora, feliz e bem no Milan, é a hora de conseguir?

Isso sempre vai ser um sonho, mas não é uma obsessão. Se eu não for o melhor do mundo, não posso me sentir frustrado por isso. Sempre vou trabalhar pela vontade pessoal de querer sempre o melhor. Se acontecer, ótimo. Se não, vou seguir jogando meu futebol. Há muitos jogadores que não conquistaram esse prêmio e estão marcados na história. Mas é um sonho que espero realizar.


> Quando o jogador é simpático se vê a diferença não é?


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