Logo após a vitória da Rua Gonçalo de Carvalho contra a obra que ameaçava suas árvores e seu posterior tombamento como Patrimônio Cultural, Histórico e Ambiental da cidade, pensamos em descontinuar este blog. Já tínhamos conseguido o que queríamos. Mas recebemos mensagens de muitas pessoas comuns, como nós, que pediam que o Blog continuasse, para mostrar que mesmo as causas dadas como perdidas – como a da Gonçalo – poderiam ser vitoriosas se as pessoas não desistissem, não abandonassem seus ideais!
Para que mais gente seja estimulada a não omitir-se e a não desistir de seus sonhos, para que eles se realizem no final.
Mais que um direito, uma obrigação.
Em 2005, essa foi a conclusão que chegaram os poucos moradores das redondezas da Rua Gonçalo de Carvalho, ao saberem pelo jornal que um grande edifício-garagem seria construído junto a uma das mais belas e arborizadas ruas da capital gaúcha. Seria uma obrigação defender a rua da ameaça que surgia.
Haeni Ficht, dentista, morador da Rua Gonçalo de Carvalho, subsíndico do edifício Ado Malagoli, era vizinho da área onde seria construída a garagem. Ele tomou a decisão de fazer algo para denunciar o que estava para acontecer. Falou com os vizinhos, procurou maiores informações e logo juntou um pequeno grupo disposto a não se omitir.
Os adversários eram poderosos. A obra seria construída no local onde existe um Shopping Center, o proprietário do terreno era também dono (na época) de tradicional grupo jornalístico gaúcho e ainda por cima, o estacionamento faria parte da construção da sede própria de um dos maiores orgulhos do Rio Grande: a OSPA – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.
Seria muito difícil enfrentar adversários desse porte. Mas todos achavam que se conseguissem esclarecer o real problema, muitas pessoas formariam suas opiniões e apoiariam a causa.
Todos colaboravam como podiam, faziam abaixo-assinados, distribuíam cópias feitas no xerox da esquina, paravam vizinhos na rua e explicavam o caso, pediam apoios por telefone ou e-mail.
Em 2006 veio a vitória. Não apenas nossa, mas de toda a cidade e do direito do cidadão comum ser ouvido. A obra não saiu e a rua, com suas árvores, pássaros e seu calçamento de pedras, foi tombada como Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Porto Alegre. Pelo que temos conhecimento, o primeiro caso de uma rua tombada, no Brasil e na América Latina.
Infelizmente, o Haeni morreu antes de ver a vitória de sua rua. Antes mesmo de ver tantas mensagens de apoio que vieram de lugares tão distantes e depois parabenizando pelo tombamento da Rua Gonçalo de Carvalho. Coisas da vida… Mas ele servirá de exemplo sempre que alguém pensar: “Não basta querer ter um mundo melhor, a gente tem é que fazer ele melhor!“