Além do rápido avanço do Facebook no Brasil, Meira prediz a morte do Orkut a
partir da observação das próprias falhas do site mantido pelo Google. "Ele está
morto do ponto de vista da inovação e do negócio", diz. Por isso, na visão do
especialista, a rede pode seguir os mesmos passos funestos do MySpace, que fez
sucesso em meados da década passada, mas perdeu o caminho da inovação e,
consequentemente, o contato com seus usuários. Acabou atropelado pelo Facebook,
um campeão em inovação, que, segundo Meira, está se tornando uma espécie de
internet dentro da internet: "A ideia da rede de Zuckerberg é permitir que o
usuário faça todas as suas atividades na web a partir do Facebook, o que já é
possível". Leia a seguir a entrevista com o especialista.
O Orkut conseguirá frear o crescimento do Facebook no
Brasil?
O Orkut ainda ganha novos adeptos no país, mas, nos últimos meses, seu
crescimento tem sido vezes inferior ao registrado pelo Facebook. Há explicação
para isso. Hoje, há uma ascensão social de pessoas que até bem pouco tempo não
tinham acesso a computador, redes sociais e jornais. Para esse grupo, o Orkut é
uma porta de entrada para a internet. Contudo, ele está morto do ponto de vista
da inovação e do negócio. Ele nunca recebeu atenção estratégica do Google e
sequer conta com um plano de negócio, que preveja como vai evoluir. O cenário
permite antever a hegemonia do Facebook no Brasil.
O Orkut pode ter o mesmo destino do MySpace?
A dinâmica de redes sociais é muito delicada. Após adquirir o MySpace, a News
Corp. tentou transformar o site em um canal do grupo de mídia. Seus gestores
imaginaram que, mantendo interface e recursos imutáveis, manteriam a audiência.
Estavam errados. A situação do Orkut é parecida. Falta à rede do Google uma
proposta coerente para chegar a algum lugar. Ele sempre foi um site secundário
para o Google.
É possível dizer, então, que Facebook e Google têm diferentes
propostas?
O Facebook possui um conjunto de estratégias bem articuladas para conectar
pessoas e marcas. Eles pensam 24 horas por dias nisso. O Google tem outras
atenções. Ele já não é mais uma empresa jovem (o gigante de buscas completa 13
anos em 2011) e quer proteger o seu legado: organizar a informação. Mais: nos
últimos meses, a empresa de Mark Zuckerberg começou a mostrar interesse no
terreno de organização, ao fechar uma parceria com o Bing, buscador da Microsoft
- e sócio minoritário da rede social. Na prática, ao fazer pesquisas no Bing, o
usuário cadastrado no Facebook visualiza links compartilhados por seus
amigos.
Mas o maior rival do Facebook não é o Google?
Por ora, não. No Ocidente, o Facebook monopoliza as redes sociais. Não há
nenhuma plataforma com mais de 700 milhões de usuários cadastrados. O Google
pode até querer frear o avanço da empresa de Mark Zuckerberg, mas seu espaço de
competição é com Apple e Microsoft. Recentemente, dois dos projetos mais
ambiciosos da empresa envolviam navegadores, sistemas operacionais em notebooks
e dispositivos móveis.
O usuário do Facebook pode encontrar quase tudo ali: amigos,
empresas, serviços. Não parece que a rede busca ser uma espécie de internet
dentro da internet?
Sim. A América On-line e a própria Microsoft (com a rede Networks, hoje
transformada em MSN) usaram este artifício no passado, mas fracassaram. A ideia
da rede de Zuckerberg é permitir que o usuário faça todas as suas atividades na
web a partir do Facebook, o que já é possível: consigo comprar passagens aéreas,
roupas, acessar notícias, conversar com meus amigos, me divertir com jogos,
acompanhar vídeos diretamente - tudo a partir de um único site. E o melhor: todo
o conteúdo consumido é compartilhado com meus amigos. Hoje, acredito que o site
seja uma máquina universal de criação e compartilhamento de conhecimento e
informações entre pessoas e empresas.
O que podemos esperar para o futuro em matéria de redes
sociais?
Não podemos virar refém de plataformas. Particularmente, sobre o domínio do
Facebook, tenho até uma sugestão: se eu fosse Mark Zuckerberg, promoveria a
competição no setor, auxiliando a criação e o crescimento de uma nova. A
Microsoft fez isso de forma inteligente com a Apple no passado. Isso evitaria o
monopólio.
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